17.2.10

Exclusão particular?

Além dos efeitos materiais, a exclusão é também um estado espírito. Dois indivíduos em mesma situação podem sentir-se de forma diferente e isso se dá porque a decepção e o sofrimento mental e físico, neste caso, depende dos desejos não realizados, e tenho a percepção de que os desejos têm construções individuais. Vejam, não estou a tornar absoluta a subjetividade, mas estou repondo em questão o que fica esquecido.
Dito desta maneira, também me sinto excluído e todo ser excluído deseja sua inclusão. Sou excluído das realizações que pretendo.
Mas quero esclarecer: Eu sou eu e meus desejos, logo não há inclusão com mudança de meus desejos, se isso acontece eu é que mudei e não estou afirmando que não possa mudar.
Porém se quero me incluir eu prefiro incluir o conjunto de coisas que me compõe, quero incluir o mundo que acredito, o modo de vida que acho justo.
A minha exclusão, assim, não é pessoal é de conjunto.Instituir um modo de vida através dos atos é lutar contra a exclusão para quem se sente excluído.

24.1.10

Andando

Os espaços que vejo têm a regularidade da vida, uma perfeita inconstância capaz de arrastar tudo em direção ao que não é pleno. E daí? nunca fiquei aperreado com o que é imperfeito. Só há paz nos cemitérios e ainda não morremos. Viver é pelejar.

13.6.09

Lacuna


Se olharmos para a realidade como um eterno fluir, como nos propõe Heráclito, podemos refletir que a lacuna ou a interrupção é apenas uma mera aparência, uma conclusão de um olhar apressado. A inconstância ou a mudança permanente é um estado natural e faço questão de afirmar minha inclusão no turbilhão.
Me por em estado de silêncio não é sinônimo de não ter o que falar. Vejo o teor da fala proporcional ao ouvido de quem ouve e acostumados ao que é familiar não temos por hábito desnaturalizar aquilo que por vezes é óbvio.
Os ouvidos estão viciados e à vezes as falas se perdem como uma mensagem posta em uma garrafa e atirada ao mar.
Não falar é dizer demais ou pelo menos é a pista dada. Ora, tudo que está a nossa volta está disposto ao conhecimento e eu até respeito quando o individuo conscientemente decide não refletir, o problema é quando não o fazemos por pura incapacidade.

7.6.09

Pessimismo e otimismo

O pessimismo não está vinculado ao diagnóstico de uma dada situação, mas sim aos caminhos possíveis dados a ela.
Se por acaso chego a conclusões desagradáveis diante de uma realidade, ou episódio e assim o qualifico, não quer dizer que devo necessariamente ser tragado por ela, devo sim significá-lo. É na significação dada por nós aos eventos da vida que reside toda ocorrência de pessimismo ou otimismo.
Uma gama de otimistas quer simplesmente ignorar a ocorrência de situações ruins e se recusam a diagnosticar ao mesmo tempo em que sentem incomodo ao verem outras pessoas fazerem esse árduo serviço, e aí pecam por ignorarem uma realidade que pode ser o solo de uma circunstância qualitativamente superior e passam a viverem como bobo alegres, sempre em conformidade com as piores coisas.
Os pessimistas, não raras às vezes, têm a proeza de identificarem mais facilmente realidades inadequadas, mas pecam ao serem sucumbidos pelas circunstâncias e acabam caindo em um imobilismo e na prostração, passando a viverem como mortos-vivos, zumbis que esperam o fim, e incapazes de uma práxis acabam contribuindo para a reprodução das coisas que alimentam suas aflições.
Em ambos os casos, se observarmos com rigor, esses sentimentos não surgem meramente dos episódios, mas do sentido que damos a eles. Por isso que a questão do projeto é tão importante.
Esses são sentimentos invariavelmente construídos pelas pessoas. Um obstáculo pode levar ao pessimismo, mas pode ao mesmo tempo servir de impulso, assim um verdadeiro otimista jamais deveria ignorar as ocorrências negativas, pois elas são combustíveis para novas e melhores realidades.

O império da palavra

Vivemos sob o império da palavra. Se olharmos atentamente para a sociedade perceberemos que elas têm muito mais peso que os atos.
É impressionante como as pessoas são valorizadas pelo que dizem independentemente do que fazem.
Não ponho em dúvida a importância que a fala tem para o mundo, porém há uma evidente falta de equilíbrio típica de uma coletividade que se torna a cada dia presa a toda sorte de mecanismos extra mundo, digo metafísicos. A força reside no fazer e não no dizer, mas é o inverso que se faz relevante para todos.
O funesto de tal feita reside no fato de que ninguém repara o mundo, o que é feito ou não feito, mas o que se diz sobre. Os conceitos são construções humanas fundamentais, mas com pouca ou nenhuma serventia quando desvinculadas da prática.
Concluo que os discursos já não me satisfazem e se quer me dizer algo, não diga pratique. Prove-me com os atos e não com palavras para que eu possa vincular as palavras a eles, se não vazio e desonesto será.


P.S. Todos falam que educação é importante... E daí? O que há de prática?

29.5.09

A hora H

Que tudo tem solo firme na contradição não há dúvida, porém há momentos em que conciliações não são possíveis e em tais ocasiões meias palavras não bastam e atitudes precisam emergir do subsolo. Essas ocasiões atendem por antagonismo e se não ousamos sair do subterrâneo sucumbiremos no silêncio perpetuo dos túmulos e reinaria a paz, pois em tal instante não haveria mais vida, dando-se por encerrada a guerra.
Atentemos para o fato de que tudo pode conciliar-se enquanto a contradição é tolerável, mas toda forma tem seu fim na esteira do eterno fluir.
Heráclito me prova mais uma vez que está certo: “Pánta Rheî”, ou seja: “Tudo flui”

22.5.09

Meu desassossego

Sempre foi uma característica das mentes pensantes o desassossego. A tranqüilidade passou e passa ao largo dos que vêem grandes dilemas naquilo que aparentemente é simples. A força do hábito força ao simplismo, a generalizações rasas, a preconceitos que se sedimentam trazendo uma leveza diante dos enigmas aparentemente resolvidos e leva aos seres a usarem uma mesma lente para enxergar o mundo, a lente da naturalidade e por conseqüência a modéstia, tão elogiado pelos senhores aos seus escravos.
Pensar e assim problematizar traz efeito inquietante e é visto com maus olhos pelos contemporâneos, a não ser pelas mentes livres que se associam entre si.
Poderia listar uma lista interminável de desassossegados que deixaram belos legados para a posteridade. Não tenho nenhuma pretensão de viver em paz, pois ela não é possível, pois foi Heráclito quem me disse que a vida é guerra e a estabilidade não é possível. A não ser para os que usam a lente do simplismo.
Não nego e quem convive comigo sabe que sou e sempre serei um ser-sendo em estado permanente de desassossego.

14.5.09

Quetões

Gosto de tratar dos problemas dos indivíduos, mas não quer dizer que trato de problemas individuais.
São questões que todos os indivíduos vivem e, portanto, resolver problemas coletivos passa pelo entendimento dos problemas de caráter existencial.
É possível mudar o mundo sem o bom entendimento sobre quem são os seres que devem mudar? É possível liberdade sem entender a condição humana? É possível traçar planos coletivos sem buscar desvendar o desejo? Adianta mudar se não for em nome da felicidade? E o que é felicidade? Como os seres lidam com ela?
Não olhar para questões existenciais é não procurar entender a sua própria condição, é partir para o mundo sem entender quem nele está.

13.5.09

Inimigos nossos de cada dia...

De uma forma ou de outra, todo mundo acaba por eleger seus inimigos. Eles se caracterizam pela oposição ao que queremos, aos nossos desejos e projeções.
Eu escolhi meus inimigos e eles residem em todas as variações de pragmatismo. Todo sentimento que rejeita a reflexão e buscam apenas resultados imediatos, todo olhar que despreza o que é humano para assumir a morbidez de um robô, todo desdém à filosofia que se representa em um olhar que quer nos dizer: “Diletantes”.
A todo esse tipo de gente, olho como quem quer dizer: “Imbecis”.

11.5.09

O não dito.

Em uma sociedade caracterizada pelo espetáculo, ou seja, com o que é visto, exposto, e de forma cada vez mais escandalosa, eu me pergunto onde fica a percepção para o que não é tão evidente. Pois no não visto encontramos grandes pérolas, explicações.
Isso mostra o quanto estamos inativos, imóveis, embora façamos muito, mas fazer muito não significa fazer.
Se vemos muito e fazemos muito, não o realizamos pela nossa liberdade de criação e percepção e sim pelo bombardeio de uma forma específica de civilização na qual estamos metidos, estamos perdendo nossa capacidade de projeção e de entendimento e alguém sempre faz isso por nós.
Se não voltarmos os olhos para o que não é dito, não mostrado... estaremos perdidos. E nessa história não há herói, a não ser nós mesmos...

16.1.09

Justa medida

Quando falei outro dia que temos que nos acostumar com a imperfeição, é que muitas das confusões têm a ver com a quimérica chegada ao que é perfeito. Nunca o teremos, embora possamos buscá-lo.
Assumir tal perspectiva, qual seja, da conformidade ao imperfeito, não é para defender que a partir de agora temos que buscá-la, mas que nunca deixaremos de tê-la.
Por isso que nunca rejeito integralmente ao passo que nunca aceito integralmente nada. Chega de idolatria e de demonização.
Acho que assim estou sendo mais dialético. Entendo o mundo como um conjunto de possibilidades e não de coisas acabadas.
Assim é meu juízo sobre as coisas e as pessoas.

22.12.08

Individualismo?

Ouço não poucas vezes de alguns críticos de nossa sociedade que o mundo anda muito individualista.
Talvez não seja bem assim... o que vejo é uma uniformização de atos. Todos acabam agindo da mesma maneira. Ninguém pratica os hábitos narcisistas e comportamentos pouco coletivos de hoje em dia por escolha da própria consciência, é uma regra universal ao ponto de tornar ridículo que não comunga dos mesmos atos. Olho para o mundo vejo todos marchando em fila indiana, com os mesmos juízos, estereótipos e tudo mais.
Onde está o tal indivíduo? Dissolvido na geléia geral.
Não é a liberdade individual que cria problemas para o mundo, se não que o oposto. A liberdade que deveria ser exercida poderia sim construir um mundo melhor.
As pessoas vivem como cordeiros, guiadas magistralmente em um grande rebanho. Todos dóceis, sem pretensões e achando que estão sento autênticas.
Não devemos cair em tal armadilha. Falar contra a autonomia é defender tal falsidade.

21.12.08

Autonomia e adesão

Leio para ver o mundo com outras lentes. Cada pensador me oferece uma lente para ver o mundo, mas acho que cada indivíduo deveria fabricar a sua. Não para rejeitar simplesmente ou para aderir por formalidade, mas para exercer o vigor que cada ser tem.
O desafio é precisamente não pensar com a cabeça alheia, se não com a própria. Não quero dizer que não é possível que pessoas pensem identicamente ou que não se possa haver adesão a algo ou alguém, mas tal ato deve ser feito através do exercício tortuoso da autonomia.
Sobre tal aspecto, Sartre nos faz uma bela explanação, a meu ver, quando trata da questão do conceito de “Grupo” em “Crítica da razão dialética”. Ou seja, como é possível que um sujeito apoderado de sua individualidade pode em alguns (ou muitos) momentos fazer adesão à algo?
Faço referência à questão simplesmente pelo incômodo que tenho quando vejo um suposto individualista rejeitar a idéia de adesão a algo, por entender que assim se perde a individualidade. E o faço também para os coletivistas que supõem que aderir é perder identidade, singularidade, independência.
A adesão que pressupõe a entrega servil e fanática, muitas vezes, é o caminho para a escravidão. Por tanto, não leio para aderir, se não que para superar, ir além (Hegel nos apresenta o conceito de Subsumir – e devo esclarecer que não sou hegeliano). Quando falo em superar sei que estou sendo muito, muito pretensioso, mas também acho que todos deveriam ser.

Obs 1: O que falei cai como uma luva para a política, aliás vamos ler a obra de Sartre acima citada.

Obs 2: Cito Hegel sem ser hegeliano para provar que as lentes apresentadas na história do pensamento são válidas e não se pode simplesmente rejeitar ou aderir a um sistema de pensamento de qualquer pensador. Por mais que gostemos de um pensador, ele não é deus e seus livros não são textos sagrados e por mais que rejeitemos um pensador, ele não é o diabo e seus livros são proibidos ( Olha “O nome da rosa” aí gente...)

20.12.08

Ainda sobre o futuro

Reportei-me nos termos referidos ao futuro por entender nele um conjunto de possibilidades.
Sim, o futuro é um conjunto de possibilidades sempre em aberto, pronto para ser projetado pelo ser existente (com redundância mesmo).
Assim não falo dele como uma causa necessária e independente do ser (das pessoas) que o constrói.
Repito: O futuro está em nosso horizonte projetivo e por isso é um conjunto de possibilidades e não necessidade.
É por isso que o passado, enquanto narrativa, pode ser refeito, re-significado.
Os fatos existiram, mas as conclusões que tiro dele pode ser diverso, e é por isso que digo que o discurso histórico é uma interpretação. É o ser humano quem cria, acredita, nega suas narrativas. O quebra cabeça é montado de acordo com o sentido que quero dar ao fato para o futuro.

18.12.08

O futuro

Sim, o futuro é o senhor de tudo. É a ele que prestamos conta agora, é por ele que falamos, agimos, escrevemos... Todas as ações miram-se lá, buscam lá o seu vigor, medo, angústia e tudo mais que é transcendente.
Esse ainda-não-ser é tão soberano que até quando falo do passado, é por ele que dou sentido ao ocorrido, é com vista nele que criamos as narrativas. O ponto de partida é sempre onde quero chegar, e não onde estou. Mesmo que não tenha consciência disso, é por tal horizonte que firmo o pé no chão. Vou lá, defino o que quero e volto ao presente para dar sentido a tudo que existe, e diga-se de passagem não tem sentido se não na consciência.
O que se vive, é bom, é ruim? Depende do que você quer para o futuro, das realizações. Ora, o valor, meus caros, só existe na nossa cabeça. A mesma água que é fundamental para a vida, pode matar.
Ora, o que há com o mundo hoje? Se o futuro é tão importante, que valor damos a ele?

15.12.08

Pausadamente

Mundo.
Eu.
Fundo.
Mundo meu.

Ser.
Seu.
Juntos.
Mundo teu.

Sendo.
Tudo.
Nada.
Escolha eu.

Também.
Aquém.
Além.
Seja teu.

Olhando.
Fazendo.
Transformando.
Mundo breu.

13.12.08

Viva a fluidez

A nossa tradição criou o homem zumbi, o homem infeliz, depressivo. É tão óbvio quanto não visto.
O que esperar de um modo de vida que valoriza o sofrimento? Ou não é verdade que se valoriza as pessoas que sofrem em nome de algo, que trabalham demasiadamente, que trocam a sua vida para se dedicarem a outras, que reprimem os desejos em nome da razão?
Ou seja, são valorizadas as pessoas que exercem o que não são. Não é à toa que temos uma sociedade extremamente depressiva, obcecada para realizar os estereótipos difundidos, e toda depressão é canalizada para o consumo.
Se as pessoas fossem autenticas não precisariam resolver suas carências depressivas no consumo.
Nietzsche nos diz “torna-te o que és.”
Exercer tal liberdade não é praticar perversidade com os outro, se não que a repressão ideológica referida é que promove o destoante.
O sistema é tão cruel que criou uma teia de controle alheio, onde cada indivíduo não exerce sua liberdade e vigia os outros. E tudo mais é punição.
Bom, o que vejo é um mundo doente. E isso não é pessimismo, é apenas um diagnóstico.

7.12.08

O que é história?

Mas afinal o que é história?
Faço essa pergunta para tentar mostrar que não é tão óbvio como se parece.
Há sempre uma confusão em tentar dar aos saberes humanos a pretensa exatidão das chamadas ciências exatas. É irônico, pois nem elas o são.
A tentativa de fazer da história um saber absoluto, no qual, segundo essa linha, a tornaria espaço para uma verdade absoluta e assim as outras versões seriam errôneas, acaba por lhe tirar seu caráter político. Ora, é opostamente o fato de a história, enquanto historiografia, ser um discurso sobre, que a faz um campo de disputa sempre, e nesse sentido a historiografia é sempre política.
Para resumir: A historiografia é um discurso e não uma verdade, e é por ser discurso que está em aberto, é uma guerra de versões, é uma disputa, é política. De outra maneira seria infértil.

Agora uma provocação: A verdade absoluta empobrece tudo que toca.

28.11.08

Todos os tempos

Todos os tempos
habitam no meu
De todos os nomes
meu e teu

Todos os tempos
estão presentes
Nítidos mesmo
que ausentes

Todos os tempos
me pertencem
Unidos nos fios
que se tecem

Todos os tempos
estão abertos
Livres, vívidos
Mesmo que desertos.

O lugar da perfeição.

Eu acredito em um mundo perfeito, e ele existe nas nossas cabeças.
Parece-me que há cerca de seis bilhões de mundos perfeitos atualmente.Como ele não deve ser importo, e mesmo que fosse não se realizaria, bem vindos à imperfeição!

27.11.08

Especilaista ou Generalista?

Um colega meu, professor de história, me disse ao comentar um livro que estava a ler que a doença atual do mundo é a “gestologia”, essa tara por gestão, como se todos os problemas do mundo fossem resolvidos com uma palavra mágica chamada gestão.

Meus caros, vos digo: Concordo integralmente e reforço com meus parcos argumentos:
Só uma sociedade demasiadamente estéril de pensamento, pode se encastelar na técnica. Tudo se resume aos gráficos, números e os problemas da vida deixam de ter o calor das pessoas e sentimentos a elas envolvidas, para assumir a frieza do gestor.
Há por assim dizer, uma ditadura conceitual que diz que, ou a opinião à cerca de uma questão é de um gestor, técnico do ramo ou não serve.
O chamado “generalista” não tem mais espaço. O que é o intelectual se não o “generalista”? só ele pode falar livremente, e essa prática abre caminho para o novo, para a reflexão, para novos e diferentes olhares sobre os nossos problemas.
O que está acontecendo diante de nossos olhos é consolidação de um modo de vida que condiciona até os que se opõem a ela. Como defensor e aspirante a “generalista” cito um exemplo desse condicionamento: A política virou serva da economia. Não se discute política, se discute as possibilidades que a economia permite para a política.
Para me contrapor, afirmo: Política está mais próxima de uma obra de arte abstrata do que de um gráfico. E garanto que os chatos de galocha vão estranhar a palavra “abstrata”, é que quem não gosta de pensar tem ojeriza à abstração.

21.11.08

O espelho

Uma cara no espelho de um banheiro úmido e quente de um pé sujo qualquer. Um pé sujo que de tão qualquer, desaparece da memória. O rosto talvez pareça molhado de cansaço, solto pelo ar do pensamento distante, denunciado pelo olhar-além: o que está a frente do olho pouco importa. Nessa hora o abstrato vira concreto, a fluidez vira fardo e por vezes, inversamente, o sólido se dissolve. O nove vira zero.
As circunstâncias estocam os olhos avermelhados e o espelho pela primeira vez tem plasticidade para além do objeto domesticado que comumente é. É uma moldura pronta para ser preenchida, mesmo que o ser próprio sempre permaneça de frente para o mesmo. O olhar diz quem é o espelho, não é ele que diz a cor do olho, é olho que diz de si mesmo. O mesmo olho que absorve do mundo os instrumentos do juízo. Quem não é juiz?
Indiscernível em determinada altura de acontecimento saber se a gordura é espelho ou rosto, quiçá uma camada intermediária de matéria desenhada cuidadosamente pelos acontecimentos anteriores, pois os dois têm uma historicidade, uma textura temporal, já que o tempo também tem espessura, uma rugosidade proporcional ao desfrute. Pobre de quem não tem espessura rugosa. Geralmente exigimos menos desgaste do espelho afim de se tornar mais palatável ao consumo, parecer novo no mercado: sinais dos tempos. Pura contradição querer menos corrosão para ser passível de ser corroído, e ao sê-lo exigir não ser.
Não seria estranho avaliar um tempo por suas contradições, e o dilema agora está no espelho, essa coisa que aprisiona e se funde no rosto para impedir que os olhos alcancem o além e transcenda no outro a sua própria diferença. Quem mais existe a não ser quem se prende diante de tal objeto? O olhar capta quem olha e torna o outro um si próprio, tudo mais é irreconhecível, assustador pois desconhecido. Narciso é o nome único, nome de quem olha que se torna de todos.
Nesse momento é possível concluir, e possibilidade não é necessidade, que captar um tempo pode ser captar um segundo, uma fração mínima, tão pequena que é incapaz de conter o volume de sentimento, de idéias, aquilo que é capitado no instante, e é aí que transborda: o recipiente não contém o conteúdo. Momento mágico, só as mentes livres transbordam. Quem está dentro de um recipiente não consegue entender a possibilidade de outra dimensão, o espelho pode refletir não só um rosto, mais a depender do movimento intencional de quem vê, pode refletir outra coisa mesmo que seja nada: quem vê é o olho do juiz.
E por falar em tempo, já passou um segundo desde o encontro despropositado entre o rosto e o espelho, é preciso abrir a porta, respirar outros ares e fingir a mais pura sobriedade. Todo mundo saberia que é mentira, desde que um único ser daquela multidão fora do banheiro enxergasse aquele rosto fingidor. Tudo bem, a sobriedade é um porre.
Mais um segundo se passou, é preciso sair, tem um outro rosto querendo aquele espelho.

16.11.08

Poesia

Quero

Quero me acabar em poesia,
vos digo.
Quero vê-la em tudo,
Nos recantos escondidos
dos olhares cotidianos,
Quero ouvi-la nas vozes
e nos ruídos mundanos,
Ser perseguido passo a passo
para abraçá-la com os olhos,
Senti-la em sua temperatura.
Quero aprisionar-me a ela
tal qual um pássaro livre,
Quero degustá-la sem sobriedade
para nunca me fartar,
Quero a claridade de seu som
e deleitar-me na sua subversão,
Banhar-me na sua impureza,
Encontrar-me com a sua inquietação,
Inebriar-me na sua perfeita imperfeição.
Apenas quero,
Como quem quer eterno querer
para saber que sempre busco,
Quero a poesia, o mundo,
eterna redundância.

Severino

15.11.08

Comentário seco para um mundo seco.

Que espécie de mundo estamos criando ao só valorizarmos a eficiência, o sucesso, a vitória, o resultado? hoje não se tolera o erro, o pensamento livre. Não se faz possível tolerar nada, nada que não seja o resultado positivo. Nunca se mede a intencionalidade, já que só é válido o resultado prático das ações.
Estamos construindo uma sociedade insuportavelmente pragmática e qualquer iniciativa que não se enquadre a tal feito é visto pejorativamente como mero diletantismo. Estou a assistir um surto de loucura coletiva, tudo em nome da racionalidade técnica de nossos dias. Em um mundo assim não há espaço para o lúdico, para os sonhos...
Prefiro um modo de vida estético, lúdico, mesmo que os pragmáticos e inférteis me chamem de louco...
Como nos diz a canção de Ney Matogrosso "Mas louco é quem me diz, e não é feliz..."

15.9.08

Pensadores

"Diletantes, diletantes! - Assim os que exercem uma ciência ou uma arte por amor a ela, por alegria, per il loro diletto [pelo seu deleite], são chamados com desprezo por aqueles que se consagram a tais coisas com vistas ao que ganham, porque seu objetivo dileto é o dinheiro que têm a receber. Esse desdém se baseia na sua convicção desprezível de que ninguém se dedicaria seriamente a um assunto se não fosse impelido pela necessidade, pela fome ou por uma avidez semelhante. O público possui o mesmo espírito e, por conseguinte, a mesma opinião: daí provém seu respeito habitual pelas "pessoas da área" e sua desconfiança em relação aos diletantes. Na verdade, para o diletante, ao contrário, o assunto é o fim, e para o homem da área como tal, apenas um meio. No entanto, só se dedicará a um assunto com toda a seriedade alguém que esteja envolvido de modo imediato e que se ocupe dele com amor, con amore. É sempre de tais pessoas, e não dos assalariados, que vêm as grandes descobertas."

Schopenhauer

14.9.08

O poder da chatice e chatice do poder

Outro dia fiquei a saber que um sersendo não conseguiu um emprego pelo fato de que o seu entrevistador deu uma olhada no orkut do entrevistado. Descobriu que o candidato fazia parte de uma comunidade intitulada "eu odeio trabalhar".
Mais um indício de que o mundo está cada vez mais chato. Ridículo é exigir que as pessoas vivam só de sobriedade. Os idiotas de plantão exercem seu poder para tolir nos outros a fluidez que não conseguem praticar. Não bastasse viver limitadamente sem sal, fazem do seu esporte preferido a perseguição alheia. Cada exemplo de leveza dos outros surte o efeito de uma bofetada. Pura pobreza de espírito de quem não entende que a desrazão é parte integrante e fundamental da vida: a infelicidade deve rondar o seu ser.
Além do mais, trabalhar em algo que dê prazer é uma dádiva de poucos: Verdade seja dita.
Ninguém perde em gostar do ócio.

28.8.08

Pensadores

"O saber absoluto leva ao pessimismo: a arte é o melhor remédio contra ele. A filosofia é indispensável para a formação, pois insere o saber numa concepção de mundo artística e o enobrece."

"Lutar por uma verdade e lutar pela verdade são coisas muito diferentes"
Nietzsche



24.3.07

Poema


Perdoem


Perdoem meus excessos
Pobres mortais.
Perdoem o peso que sai da minha boca
Se não, não sou eu mais.

Perdoem o meu olhar indiscreto
Minha incoveniência satírica
Minha forma de caminhar
Minha ação empírica.

Perdoem as minhas aspirações
Meu ouvir diferente
Minha introspecção que insiste
Meu desejo indecente.

Perdoem também a vida
Que é uma guerra
Onde a vida é difícil vingar
Caminhem com suas próprias pernas
Mas não se esqueçam de me perdoar.

Fragmentos


Tenho uma ligeira queda pelos fragmentos, eles nos estimulam a pensar a buscar o sentido, tira o cérebro da atrofia. Prefiro isso aos discursos prontos, mastigados que nos dizem de onde vêm e para onde vai.
O fragmento impõe mais que qualquer outra coisa a resignificação e o faz deixando claro que está fazendo.
É um bate papo, não um discurso.

9.3.07

Fragmentos


Não há filosofia sem vida. Não consigo suportar a idéia separada da existência, e uma parcela da tradição busca na segregação (vida e idéia / experiência e razão) o caminho para o conhecimento.
Busca-se uma razão pura. Pura de que? Do homem? Da vida real?
Por isso digo que só há pensamento justamente pelo fato da existência. Sem ela não há possibilidades, potência...Primeiro existo, depois penso. Essa é máxima existencial, assim inverte-se a máxima cartesiana: “Penso, logo existo”.
O pensamento pode e constata a existência, mas só penso por causa de minha existência, ela antecede a qualquer outra questão. Não se pensa sem existir.
Dessa forma, o pensamento está indissoluvelmente ligado à vida concreta. Sou as minhas experiências e meus pensamentos surgem daí.
Prefiro a vida. A questão não é a verdade, o conceito de verdade, mas o que se faz com ela.

27.2.07

Em-Tempo


Desfiles de escolas de samba como estamos vendo, com notas, critérios rígidos, tempo, celebridades, dinheiro, hierarquia...
Pode ser qualquer coisa, menos carnaval.
O carnaval é justamente a quebra de hierarquia, onde todos são iguais e qualquer um pode ser tudo sem chamar a atenção dos valores tradicionais. Poderia mesmo dizer que é uma festa dionisíaca.
Mas depois que criaram uma tal de liga, direito de imagem, sambódromo (lugar onde o samba corre), notas...e em decorrência comentários como: “essa é a melhor” ou “aquela foi a pior, por isso foi rebaixada”.
Ou seja, isso virou competição, virou ritual apolíneo. Virou também espetáculo onde uns são ativos e outros espectadores (passivos). Pois é, no carnaval todos são ativos e nunca espectadores, todos são protagonistas...
Carnaval não é razão, tudo menos isso... O povo não é bobo, e mesmo de forma inconsciente vem revitalizando os blocos.
Aos burocratas da razão, a burocracia. Ao carnaval, a festa...

Outros Pensadores


"Nada que é humano me causa entranheza"

Karl Marx

21.2.07

Em-Tempo


Sobre a violência:
Estamos todos no mesmo barco e deveríamos achar isso.

Contribuiriam mais para amenizar o problema da violência, se os meios de comunicação colocassem o debate em seu devido eixo ao invés de fazerem uso dos incidentes bárbaros para difundirem suas idéias pré-definidas.

Quando duas pessoas passam a viverem em sociedade, passam a estabelecerem regras de convivência para tornarem a vida possível. O que fazem as partes cumprirem o acordo é o fato de acreditarem coletivamente no mesmo projeto e se sentirem pertencentes e responsáveis por ele.

Quando uma das partes perde esse sentido, as regras passam também a não terem nenhum valor. Conseqüência: Quem não acredita mais na sociedade passa a descumprir as regras, pois sabemos que cumpri-las exige acreditar em algo maior que a tentadora vontade de não cumpri-la.

Quando pego um dinheiro emprestado com um amigo, por exemplo, posso ficar tentado a não pagar, pois é mais vantajoso para mim. Porém pago o dinheiro pelo fato de continuar a desfrutar da confiança que me faz pegar dinheiro emprestado novamente se precisar de novo. Se não pago, posso levar um não. Ou seja, troco a vantagem concreta por um valor que compartilho com meu amigo, um bem maior.

A grande lição é: Para cumprir uma norma, preciso compartilhar valores, preciso ter o sentimento de pertencer a uma sociedade e ter consciência do outro, preciso ter um sentido de futuro em minha mente.

Porém, estamos no auge do individualismo, não estamos interessados pelo mundo (mundo, leia-se também as pessoas), a não ser no discurso. Pagamos propina para não pagarmos multa, jogamos lixo no chão, se precisar posso até matar para livrar a nossa cara, posso também usar a força e espancar alguém por causa de uma pequena divergência.

Quanto ao pertencimento, não precisamos ir muito longe. Para alguns, a sociedade na forma do Estado só surge para exigir dever (incluí-se punir) e nunca para dividir direitos. Como diz uma música dos Engenheiros do Havaí: “Todos iguais, mais uns mais iguais que outros.”

Existe uma parcela da sociedade que vive sob outros valores, mais brutais. Conhecem só a lei do mais forte. O que queremos de retribuição? Quem diz que não tem nada a ver com isso, pratica o pior dos individualismos, como se o Ser fosse completo e descolado do mundo.

Uma prova de que há outros valores foi uma matéria publicada a dois anos por uma revista de circulação nacional em que uma pesquisadora paulista entrevistou jovens ligados ao crime. A opinião geral deles era que não havia importância no fato de poderem morrer amanhã, tinham o hoje e isso era suficiente. A regra era viver/consumir, ter respeito, liderança nem que seja só por hoje.
Exigir que pessoas assim respeitem a nossa vida, quando sequer respeitam as suas?

Então é preciso estabelecer o valor da vida, do respeito ao outro que começa no respeito a si próprio. O investimento em educação, esporte e arte é uma solução tão óbvia e falada quanto não praticada.

É preciso estimular a sensibilidade, ela torna o mundo melhor. Achar que endurecendo as penas vamos reduzir drasticamente a violência é uma ilusão típica das soluções instantâneas e mágicas que todo mundo faz de bote salva vidas.

Saramago disse que toda vez que está afogado de coisas ruins se agarra a um livro para não afundar na lama. Achar que uns podem fazer uso desse instrumento lúdico para viver e outros não, é achar também que há predestinação à erudição para uns e à badidagem para outros. Ora, se assim fosse não poderíamos culpar os bandidos, pois o critério para a responsabilidade é a liberdade de escolha. Que tal darmos o direito de escolha para poder cobrar com maior veemência pelo dever da responsabilidade?

7.2.07

Outros Pensadores


Eu não sou eu
Nem sou o outro
Sou qualquer coisa de intermédio
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim
Para o outro.
Mário de Sá-Carneiro - Poeta português

19.1.07

Fragmentos


A única coisa imutável no tempo é o passado. Mas sua imutabilidade é fundamental para o futuro. Aquilo que ainda não é, necessita daquilo que é, pois algo só pode vir a ser diante de um ser petrificado. O projeto depende de algo a superar, se não, não é projeto.
Assim, toda mudança só é, em relação a alguma coisa que permanece e tudo aquilo que permanece é chamado de passado.
Já o futuro não surge a partir de um nada, toda existência estabelece um estado relacional, de modo que só há mudança com estabilidade.
Pode parecer contraditório, mas uma das regras da dialética que diz que tudo flui, ou seja, tudo muda, carrega consigo a idéia de estabilidade: há algo de permanente, e é a mudança.
O tempo é uma prova da dialética diante de nossos olhos.
Baseado em Sartre, podemos estabelecer uma “fórmula” para entender o tempo: O ser é o que já não é, e é o que ainda não é.
Vou escrever mais sobre tal assunto, por hora vamos refletir sobre esta “fórmula”.

Dicas


Livro: Ensaio sobre a cegueira escrito por José Saramago.

Não há coisa mais nobre que a possibilidade de ver. Ariano Suassuna nos disse que há uma diferença entre olhar e enxergar.
O português Saramago (ganhador do Nobel de literatura) faz de uma ficção, onde um belo dia se estabelece uma “epidemia de cegueira”, um primor de possibilidades de reflexão sobre o que é enxergar. Por vezes é preciso se distanciar de algo para poder conhecê-lo.
Na obra, perder a visão faz as personagens enxergarem o que estava invisível diante de seus olhos sãos, e o leitor é levado a passar pelo mesmo processo sem ficar cego fisicamente, fazendo-nos abrir os olhos.
Para mim, é uma crítica à alienação contemporânea que faz o homem perder sua humanidade.

18.1.07

Fragmentos


Intervindo no mundo estamos intervindo em nós mesmos. Intervindo em nós mesmos estamos a intervir no mundo.
Somos o produto do todo e o todo também é nosso produto. O ser e o objeto formam um uno. Eles se entrelaçam em uma relação metabólica onde um influencia e determina o outro. O “Ser-puro”, ou melhor, o puro Si-mesmo só existe nas possibilidades da linguagem e não no real.

16.1.07

Dicas


Livro: A cerimônia do adeus, escrito por Simone de Beauvoir.

O referido livro é um relato emocionante dos últimos anos de vida de Jean-Paul Sartre, dividido em capítulos que vai de 1970 a 1980, ano de sua morte. A brochura ainda contém uma excelente entrevista feita por ela a Sartre em agosto/setembro de 1974.
Os dois foram companheiros desde a juventude, onde revolucionaram o conceito de amor conjugal. Eram dois dos principais nomes do existencialismo (corrente filosófica de grande vulto no século XX), além de serem por toda vida militantes de suas idéias e terem se aproximado muito do marxismo.
É realmente uma obra permeada de humanismo capaz de emocionar. No último parágrafo Castor (apelido de Simone muito usado por Sartre) escreve: “Sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá. Assim é: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo”.

Outros Pensadores


"Somos o que fazemos do que fazem de nós"
Jean-Paul Sartre

Fragmentos


Toda definição é uma tentativa de por fim a algo, é impor limite a uma coisa, é contê-la dentro de uma margem demarcada pela definição que é o próprio conceito.
Quando digo que algo ou alguém é, estou petrificando-o, pondo fim às possibilidades, aprisionando o mesmo ao seu passado, ao seu já-foi e digo que assim é.
Mas isso não passa de uma tentativa, pois o mundo não tem limite. O objeto a ser conceituado nunca deixa se aprionar.
Há sempre as possibilidades, pois tudo está em seu vir-a-ser. Tudo está em direção a seu fim, e enquanto não chega a seu fim particular, não há como estritamente conceitua-lo de forma definitiva.
O mundo não está paradão, está em abertura e se queremos compreendê-lo precisamos nos colocar também em abertura.

14.1.07

Outros Pensadores:


"O que se leva dessa vida é a vida que se leva"
Barão de Itararé

Poema


Liberdade

Todo corpo é gaiola
Caminhar, respirar
Até ir embora.

Todo corpo é gaiola
Espelho é quem diz
Que presença me isola

Todo corpo é gaiola
Cada um diferente
Mas sempre livre por fora.
Severino

Fragmentos

O mundo tole o novo punindo o ridículo.
Os fracos têm medo de parecerem ridículos, preferem a segurança medíocre da normalidade. Temem arriscar, criar e assim contribuem para a mesmice.
Pois tudo que é novo causa espanto, parece loucura, coisa sem fundamento.
Por sua vez, o mundo introjetou a idéia de rejeição à diferença, às novas idéias e é capaz de punir severamente quem insiste em provar que as coisas vão além do que temos por verdadeiro. O mundo é um porvir. Não está, senão que está sendo.
Precisamos viver em constante abertura para o mundo. Os idiotas que morram dentro de suas prisões.